Professora do curso técnico de Cuidador de Idosos fala da importância de nos prepararmos para atender às demandas da população idosa
"Até 2030 vamos ter cerca de 20% a mais de idosos no país. Se a população está envelhecendo, e não temos ninguém para cuidar dela, como essas pessoas vão ficar?”
A pergunta da enfermeira e professora Fabiana de Mendonça Oliveira ajuda a justificar a importância da formação de um novo profissional para o mundo do trabalho no Brasil. O cuidador de idosos é uma profissão que está se tornando cada vez mais especializada e que vai se tornar mais importante à medida que o Brasil passa por uma transição na estrutura etária da sua população, com o crescimento populacional na faixa da população com mais de 50 anos.
“A comunidade e a sociedade estão necessitando desses novos profissionais, precisando de várias profissões para atender o que é necessário para a nova realidade do país”, explica Oliveira.
De fato, o consumidor com mais de 50 anos movimenta cerca de R$ 1,6 trilhão por ano no Brasil, segundo a consultoria Pipe.Social, mas ainda são poucos produtos e serviços pensados especificamente para esse público, o que cria oportunidades na chamada economia prateada, uma das “economias emergentes”, que apresentam o maior potencial de crescimento nos próximos anos.
Este é o caso dos cuidadores de idosos. Segundo a professora, esses profissionais precisam de conhecimento para atuar diretamente nas necessidades dessa população que está envelhecendo, apoiando no que for necessário, seja relacionado a dificuldades motoras, cotidianas, psicológicas, entre outras.
“Os idosos precisam ser incluídos na sociedade. Eles podem ter dificuldade motora e agem mais devagar, mas querem fazer parte da comunidade e não podem ser descartados”, explica. “Esta é uma nova profissão, criada para melhorar esse aspecto de adaptar a sociedade ao envelhecimento da população.”
Para suprir esta necessidade do mundo do trabalho, o curso técnico de Cuidador de Idosos é uma formação nova. Antes, ele era encarado como uma qualificação profissional de alguns meses, mas se transformou em um curso específico em que os estudantes vão ter uma formação de um ano e meio a dois anos específica para cuidar da população que está envelhecendo.
“O curso técnico surgiu para qualificar melhor os profissionais. Em vez de fazermos formações rápidas e curtas, poderemos ter profissionais mais especializados com o técnico, que engloba um conhecimento maior, com mais tempo de formação, e mais conhecimento, o que facilita a entrada no mundo do trabalho”, explica.
Oliveira é professora do curso técnico de Cuidador de Idosos no Instituto de Educação Rui Barbosa, em Aracaju (SE). Ela se formou em enfermagem e chegou a trabalhar na área, mas há 11 anos se tornou o que chama de enfermeira-professora. “Quero estar aqui com a minha comunidade, ajudando a formar e apresentando oportunidades”, diz.
Segundo ela, os estudantes formados no curso podem atuar em três vertentes: “Eles podem trabalhar em casas de repouso e de idosos, que devem crescer e se tornar comunidades de idosos. Também podem atuar para famílias com idosos que podem estar enfermos, com dificuldade de locomoção, com problemas neurológicos, acamados. Outra opção é atuação como companhia para pacientes idosos hospitalizados.”
O público das turmas de Oliveira é formado em 99% por mulheres em idades variadas, ela explica. “Dentre os estudantes há pessoas que já são consideradas idosas, acima de 60 anos, e também jovens de 16 a 18 anos. É um público bem variado em termos de idade”. Isso indica ainda a importância dessa formação para grupos variados da sociedade. “Toda a população vai envelhecer. Para as alunas mais jovens, o curso é um estímulo para trabalhar na área de saúde. Para as alunas mais velhas, é um estímulo para aprender, conviver, retardar o envelhecimento, se incluindo na sociedade e entendendo que mesmo depois dos 60 é capaz de atender e de cuidar. É um público idoso que se prepara para cuidar de si mesmo e para se inserir no mundo do trabalho com esta profissão” disse.
Com a entrada desses novos profissionais no mundo do trabalho, o país começa a avançar para lidar com essa transformação da população. “Precisamos aprender muito mais como sociedade para nos prepararmos melhor para essa inclusão dos idosos. Isso precisa de adaptação do governo, das pessoas e das profissões que vão lidar com isso”, disse Oliveira.
(Depoimento dado à equipe do Itaú Educação e Trabalho, em agosto de 2022)
O Itaú Educação e Trabalho estabelece parcerias com as secretarias estaduais de Educação, oferecendo apoio técnico para viabilizar e aprimorar a oferta da Educação Profissional e Tecnológica (EPT) e a inserção digna no mundo do trabalho.
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