A pesquisa mostra que equidade é fundamental no processo de expansão da modalidade de ensino e identifica desafios em torno da perspectiva socioeconômica das juventudes
O Itaú Educação e Trabalho lançou no dia 7 de novembro a pesquisa “Democratização da EPT no Brasil: Análise sobre a oferta considerando raça, gênero, condição socioeconômica e local de residência”, elaborada pelos pesquisadores Alysson Portella e Thiago Patto, a pedido da organização.
O estudo mostrou que a oferta de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no país é equilibrada em termos de raça e gênero, mas tem grandes desafios de equidade a serem superados ao avaliar o perfil socioeconômico das juventudes.
O Índice de Representação Descritiva (IRD) é o indicador usado para medir a equidade de acesso à EPT, em que o valor 0 é considerado o “equilíbrio total” e que deve ser perseguido. Já valores entre -10 e 10 são considerados “equilíbrio relativo”; entre 10 e 30 (ou -10 e -30) são considerados “desequilíbrios pequenos”; entre 30 e 50 (ou -30 e -50), “desequilíbrios médios”; e valores acima de 50 (ou abaixo de -50) “desequilíbrios altos”.
Na perspectiva de raça, o estudo indica que o IRD geral, entre matrículas da rede pública e privada, é de -5,1, enquanto na rede estadual é maior, de -9,5. O resultado se enquadra no chamado “equilíbrio relativo”, mas merece atenção. Entre as regiões brasileiras, há registros de desequilíbrios pequenos, em especial no Sudeste, que apresenta IRD geral de -15,7, seguido por -13,8 no Norte. Na oferta da rede estadual, o resultado mais expressivo é no Centro-Oeste, com -12,9, seguido pelo Norte, com -6,2.
Na dimensão de gênero, os resultados são relativamente equilibrados em praticamente todas as regiões. O IRD geral do país é de -1 e, na rede estadual, de 0,4. O Sul apresenta o maior desequilíbrio geral, de -9,3, e na rede estadual, de -10,1, seguido pelo Centro-Oeste, com -2,9 geral e -5,2 na rede estadual.
O estudo realiza, ainda, intersecção entre raça e gênero e conclui que homens brancos estão sobrerepresentados entre alunos de EPT no Brasil como um todo e em todas as regiões, ainda que não de maneira expressiva. Homens pretos, pardos e indígenas (PPI), por sua vez, são aqueles com pior representação no Brasil e em todas as regiões. A pesquisa mostra, também, que as mulheres pretas, pardas e indígenas são sub-representadas no país em quase todas as regiões, com maiores desequilíbrios no Sudeste e Centro-Oeste.
Nível socioeconômico: Alerta
O maior desequilíbrio na oferta de EPT em quase todas as regiões é a partir da situação socioeconômica dos estudantes. O nível de escolaridade da mãe é representativo do nível socioeconômico dos estudantes. Para fins de análise, neste estudo, mães com ensino fundamental completo ou no máximo ensino médio completo caracterizaram famílias com baixo nível socioeconômico, e o restante das famílias que não se encaixam nesse perfil foi considerado de alto nível socioeconômico.
Ao considerar as mães com até ensino fundamental, estudantes de baixo nível socioeconômico estão sub-representados em todas as regiões, sendo maior nas regiões Sul e Sudeste. Apesar de ainda significativo, esse desequilíbrio é menor à medida que a escolaridade das mães aumenta, também com maior desequilíbrio para região Sudeste e Centro-Oeste.
Ao analisar os eixos tecnológicos dos cursos ofertados em EPT, o estudo revela que há disparidade na oferta na perspectiva de gênero ao desagregar por eixo. Mulheres estão concentradas em alguns eixos: ambiente e saúde, desenvolvimento educacional e social, gestão e negócios, produção cultural e design, produção alimentícia, produção industrial, e turismo, hospitalidade e lazer. No entanto, estão sub-representadas em controle e processos industriais e informação e comunicação. Nos outros eixos há um certo equilíbrio.
A partir desses dados, a pesquisa também projeta quais devem ser as metas de expansão do sistema de ensino nos próximos dez anos, garantindo equidade da oferta, principalmente para grupos em vulnerabilidade.
“O Brasil caminha para ter um salto significativo na oferta de EPT para as juventudes, modalidade de ensino que proporciona formação para o mundo do trabalho atrelada à formação geral. No entanto, para que essa ampliação se realize com qualidade, será fundamental que os gestores estaduais considerem as especificidades da realidade de suas juventudes para planejar essa expansão de modo a garantir diminuição das desigualdades e promoção de desenvolvimento social e econômico no longo prazo com equidade de oportunidades”, avalia Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho.
Sobre a pesquisa
O estudo foi realizado a partir de dados do Censo Escolar de 2019, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Contínua) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e teve o objetivo de examinar os possíveis desequilíbrios da oferta de EPT no Brasil e, assim, contribuir para que a expansão das matrículas na modalidade aconteça com mais equidade.
A íntegra da pesquisa está disponível na Biblioteca do portal do Itaú Educação e Trabalho.