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“Curso técnico permitiu que eu falasse com propriedade daquilo que eu vivia”

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Andrew Augusto encontrou na EPT a possibilidade de inovar as práticas agrícolas

Andrew Augusto Silva dos Reis, egresso do curso técnico de Agroecologia pela Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará (EETEPA) Maria de Nazaré, localizada em Curuçá, no Pará, desde cedo esteve imerso no universo agrícola. “Meus pais são agricultores e eu e minhas irmãs fomos criados e sustentados à base dessa atividade”, conta. A paixão pela terra e pelo cultivo de alimentos o acompanhou ao longo dos anos, mas foi a formação técnica que lhe proporcionou as ferramentas necessárias para alavancar suas atividades e contribuir de maneira significativa para a comunidade local. “Procurei os cursos e me tornei técnico em fruticultura e em agroecologia. Isso me permitiu trazer embasamento técnico para a nossa área de atuação, que é a agricultura”.  

Para ele, essa sinergia entre a teoria e a prática foi fundamental para seu desenvolvimento. “Associar a teoria à prática é muito importante, porque tem muitas pessoas que se expressam bem na teoria, mas na prática, acabam tendo alguma dificuldade. Então, dentro do curso técnico, isso traz uma harmonia para aquilo que a gente fala e o que a gente faz”, destaca. 

Hoje, Andrew trabalha em Curuçá, município do Pará, onde desenvolve projetos de agroecologia e sistemas agroflorestais. Ele atende produtores da região, levando conhecimento técnico e inovador para práticas agrícolas mais sustentáveis. “Estamos trabalhando com consórcios, cultivando diversas culturas de maneira diferenciada. A agroecologia e fruticultura me proporcionaram isso: poder levar a informação”

Passar o conhecimento entre gerações e integrar novas técnicas é um dos pilares de sua atuação. “Até hoje o meu pai trabalha comigo, com todo o aprendizado que ele adquiriu ao longo do tempo”, conta Andrew. Ele destaca a importância de valorizar a sabedoria tradicional enquanto se incorpora o conhecimento técnico aprendido na academia. “Tentamos melhorar a vida do produtor que está ali, muitas vezes com uma ideia muito antiga, de que só aquilo dá certo. E a gente traz o conhecimento técnico, com ideias que realmente podem dar certo”, explica. Para ele, essa combinação de tradição e inovação permite não só a preservação das práticas ancestrais, mas também a introdução de métodos mais eficientes e sustentáveis, beneficiando a comunidade agrícola como um todo. 

A partir dos cursos técnicos, ele diversificou a produção em sua propriedade, introduzindo a cultura da pitaya, além das tradicionais. “Estamos trazendo a pitaya como uma proposta de diversificar a propriedade do agricultor. Além da banana, da castanha, do caju, ele pode também trabalhar com esta fruta que se adapta muito bem ao nosso clima. Desta forma, podemos colher culturas diferentes em cada época do ano”, explica. 

A prática da agroecologia e o cuidado com o meio ambiente são fundamentais no seu trabalho. Andrew destaca que todas as práticas de manejo em sua propriedade são orgânicas. “Utilizamos matéria-prima local, como caroço de açaí misturado à terra preta e folhas secas, além de adubo de frango”, diz. A reciclagem é uma parte essencial desse processo: “As pitayas que plantamos, por exemplo, são em baldes que seriam descartados no meio ambiente, transformando-os em vasos, e reciclamos pneus de moto para a produção”. Essa abordagem ecológica não apenas beneficia o solo e a saúde das plantas, mas também promove a conscientização ambiental. No entanto, a transição para essas práticas sustentáveis enfrenta resistência local devido à tradição do uso de insumos químicos. “Nossa missão como técnicos é levar essa conscientização e abrir a mente dos produtores, mostrando que uma produção diversificada e sustentável é possível e benéfica”. Com isso, Andrew busca garantir que a terra, de onde tiram seu sustento, permaneça fértil e produtiva para as futuras gerações. 

Com as mudanças climáticas ganhando espaço no debate global, a Conferência das Partes (COP) tornou-se um evento crucial. A COP30, que acontecerá em Belém, no Pará, no próximo ano, reunirá líderes mundiais para discutir e negociar ações voltadas à mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Para os moradores de Curuçá, região conhecida pelo cinturão verde e pela economia baseada na agricultura familiar, a conferência representa uma oportunidade única. “Precisamos nos apropriar do conhecimento, daquilo que nos pertence, para vender e falar para as pessoas que virão de fora”, enfatiza Andrew. A COP30 oferece uma plataforma para mostrar ao mundo a riqueza de sua agricultura, floresta e mangue, defendendo práticas sustentáveis e inovadoras que valorizem e protejam esses recursos naturais. Para a comunidade local, isso significa um reconhecimento global e a chance de atrair apoio e investimentos que possam impulsionar o desenvolvimento sustentável da região. 

Para ele, tudo isso só é possível através do conhecimento e da prática e foi através da Educação Profissional e Tecnológica que ele encontrou a base para o seu desenvolvimento. “O curso técnico permitiu que eu falasse com propriedade daquilo que vivia. Para eu falar de algo com propriedade, preciso entender e conhecer”, enfatiza Andrew. Ele acredita que a EPT pode ser uma solução para muitos jovens que buscam um futuro melhor, mais consciente e sustentável. “O curso técnico tem a capacidade de transformar a sua vida, assim como transformou a minha. Sou jovem, moro no interior do Pará, e hoje atuo como profissional na agricultura. Então pode ter certeza de que assim como mudou minha vida, o curso técnico pode mudar a sua e da sua família”, conclui. 

(Depoimento dado à equipe do Itaú Educação e Trabalho em maio de 2024) 

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