Para professor de matemática, formação técnica em agroindústria com foco em cacau, oferecido em Ilhéus (BA), busca quebrar o paradigma e fazer região se tornar polo industrial
O sul da Bahia produz 27,8% do cacau no Brasil, de acordo com o IBGE, mas por muito tempo teve apenas um papel coadjuvante, de produtor de matérias primas, no mercado nacional de chocolate.
“Nós sempre exportamos a amêndoa do cacau, mas não agregamos valor a ela. Isso levou a muita discussão sobre o fato de que a gente produzia o cacau, que era levado para São Paulo para ser beneficiado e voltava para cá como chocolate que não conseguíamos consumir por conta do custo. Mudar essa mentalidade é fundamental. É um paradigma que precisa ser quebrado”, avaliou o professor Cosme Nascimento, que ensina matemática no curso técnico de Agroindústria com foco em cacau e chocolate no Centro Estadual de Educação Profissional do Chocolate Nelson Schaun (CEEP), em Ilhéus (BA).
Foi justamente para mudar o paradigma, de olho no potencial socioeconômico da região e em uma indústria que gerou mais de R$ 17 milhões em receita no Brasil no ano de 2020, segundo o IBGE, que o CEEP do Chocolate, a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), a Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC), com o apoio técnico do Itaú Educação e Trabalho (IET), atuaram em um projeto voltado a oferecer mais oportunidades para as juventudes da região, aproveitando as riquezas do cacau.
“É um curso único que traz um grau de desenvolvimento para a região e ajuda a mudar a mentalidade para que nos tornemos protagonistas do chocolate”, explicou Nascimento. “Formamos profissionais com capacidade não só de produzir chocolate, mas que tenham uma visão orgânica do todo e percebam o que é a cultura do cacau. Esses jovens vão usar esse conhecimento para extrair da cultura a possibilidade do chocolate. Isso nos dá um horizonte muito amplo a ser descortinado”, avaliou.
Para o professor de matemática, é importante que esse processo tenha início no itinerário contínuo, para que as novas gerações assumam um papel importante nessa transição.
“Temos sementes, que são esses jovens de mente aberta para essa mudança e que vão fazer com que aconteça essa transformação. Só assim vamos conseguir trazer para a região a possibilidade de não sermos simplesmente exportadores de amêndoas e que possamos agregar valor a esses produtos que estamos produzindo”, disse.
Outro ponto importante, segundo ele, é que o desenvolvimento dessa indústria na região pode fortalecer a cultura local, oferecendo oportunidades para os jovens, que não vão precisar buscar alternativas profissionais em outros estados.
Para isso, o curso técnico de agroindústria do CEEP do Chocolate foi atualizado para que, após sua conclusão, os estudantes pudessem ingressar no curso superior de tecnologia recém-criado na Universidade Federal do Sul da Bahia na mesma área, em Produção de Cacau e Chocolate, aproveitando o conhecimento adquirido.
“A proximidade da escola com a universidade é importante e valoriza a educação. Isso ajuda a agregar valor e a dar sentido à formação para que o aluno perceba que dentro dessa interação ele se insere e pode ter várias contribuições, o que é positivo para eles, para os professores, para a escola, para a comunidade e até para o estado”, disse Nascimento.
O próprio professor Cosme se vê como parte desse processo de valorização. Ele ensina matemática no CEEP do chocolate desde 2019, e aproveita para repassar uma experiência que vem de uma formação técnica em agroindústria e de 25 anos de trabalho na área de pesquisa de cacau. “Como tenho experiência profissional na área, e dentro do que atuei usei muito matemática, para mim é mais fácil perceber onde aplicar os conceitos matemáticos dentro do curso de agroindústria. A matemática está em tudo, não tem como fugir. Fazer essa interdisciplinaridade entre a matemática e as matérias técnicas é muito bom para a formação dos estudantes.”
(Depoimento dado à equipe do Itaú Educação e Trabalho, em agosto de 2022)
O Itaú Educação e Trabalho estabelece parcerias com as secretarias estaduais de Educação, oferecendo apoio técnico para viabilizar e aprimorar a oferta da Educação Profissional e Tecnológica (EPT) e a inserção digna no mundo do trabalho.
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