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“Comigo, aqui na escola, as mulheres conseguem se ver em uma posição que antes da minha presença era inexistente”

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Professora de mecânica e eletromecânica em Carmópolis (SE) se tornou referência para mulheres que buscam trabalhar no setor

Thamyres Lima é professora dos cursos técnicos de mecânica e eletromecânica oferecidos pelo Centro Estadual de Educação Profissional Governador Marcelo Deda Chagas, na cidade de Carmópolis (SE). Estudante de escola pública e egressa da Educação Profissional e Tecnológica (EPT), estudar sempre foi uma paixão para ela e, por isso, após concluir o ensino médio, ingressou no ensino superior. Nessa jornada, se formou em engenharia mecânica e em ciências exatas e tecnológicas, além de ser mestre e doutora em ciências e engenharia de materiais.

O amor que Thamyres nutre há anos pelos estudos se transformou e hoje ela se dedica em transmitir tudo o que aprendeu para jovens e adultos que cursam o ensino técnico em suas salas de aula. “Sempre digo que sou uma professora empolgada, que está sempre aprendendo para poder ensinar mais. Sou ‘filha’ de uma escola técnica e sei como foi importante ter professores que lá atrás lutaram por mim e para me dar mais do que o básico. Que tiveram um olhar mais humano e foram capazes de enxergar que o ‘algo a mais’ que estavam oferecendo, eu poderia usar para construir meu futuro. Agora que estou na posição de fazer o mesmo que fizeram por mim, faço o melhor que eu posso para meus alunos. Tento conhecê-los e estar próxima para que eles possam ter a liberdade de falar comigo e pensarmos em novas ideias e sugestões de como encaixar o dia a dia deles e da família nas aulas e na prática. Eu me vejo muito realizada no papel de educadora e feliz seguindo esse caminho. Quero contribuir no crescimento deles assim como fizeram comigo”, conta.

Carmópolis tem apenas 16 mil habitantes e está localizada no interior do Sergipe. Na cidade está situado um polo de óleo e gás que emprega grande parte da comunidade. Diante disso, segundo Thamyres, o município necessita de muitos mecânicos e o mercado demanda profissionais formados na área. “Nossa intenção nos cursos de mecânica e eletromecânica é dar aos alunos uma base geral voltada para automação e para atender as demandas locais. Quando oferecíamos somente o curso de mecânica, notamos que o mercado pedia um perfil de aluno que tivesse conhecimento de tecnologia associado à mecânica. Naquele momento, não estávamos entregando para o mercado tudo que podíamos. Foi por isso que surgiu o curso de eletromecânica, que já conta com muitos alunos, especialmente aqueles que têm o desejo de entrar no mundo do trabalho na área tecnológica. São, em geral, jovens curiosos, que assistem vídeos no Youtube e que querem aprender o que viram na prática. Mas também temos estudantes com idades mais avançadas, que já têm uma certa prática, aprendida no dia a dia com o pai mecânico, por exemplo, e que entram no curso para construir o conhecimento técnico”, explica.

A área e as profissões desse segmento atraem tradicionalmente mais homens do que mulheres. Thamyres conta que, no início de suas atividades na escola, muitos alunos até a questionavam se ela era de fato formada em engenharia mecânica e se trabalhava no setor. “Ver uma mulher negra professora de mecânica foi um grande choque para todos porque este não é o perfil comum da área. A maioria dos meus alunos ainda é homem, mas hoje já tenho mulheres no curso tentando quebrar esse padrão. Elas entendem que o caminho para elas será árduo e quando me perguntam das dificuldades, sou realista: digo que não é fácil, mas que sempre é possível. Comigo, aqui na escola, elas conseguem se ver em uma posição que antes da minha presença era inexistente”, destaca.

Entre as vantagens do curso técnico para a professora, as atividades práticas são de grande importância para os alunos, especialmente em locais como Carmópolis. “A teoria por si só não basta. Para mim, o aprendizado em si o estudante conquista na prática. Ele precisa visualizar o que irá encontrar fora da escola e o que irá fazer no mundo do trabalho. Aqui em nossa cidade, percebo que muitos alunos somente têm o contato com materiais, insumos e maquinários caros e tecnológicos no ensino técnico. A prática possibilita que eles vivam uma realidade completamente diferente do seu cotidiano e de suas famílias”, afirma.

Por fim, Thamyres reforça que a EPT deve ser parte importante da formação de um profissional, mas não o todo. “O ensino técnico traz uma abrangência muito grande. Porém, sempre incentivo meus alunos a nunca pararem de estudar. Quero que eles entendam que não podem se acomodar e que a mecânica e a eletromecânica irão se atualizar constantemente, por isso é necessário buscar conhecimento e outros cursos para evoluir cada vez mais”, conclui. 

(Depoimento dado à equipe do Itaú Educação e Trabalho em agosto de 2022)

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