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“Aprendizado nunca é pouco para quem quer vencer na vida”

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Pescadora e líder de quilombo, estudante de turismo vê no curso de EPT uma oportunidade para apresentar a turistas a história e a realidade local

Mulher negra e quilombola, Izabeli Leal é pescadora e trancista. Moradora de Salvaterra, no Pará, no quilombo de Santa Luzia, ela viu no curso técnico de turismo, oferecido pela Eetepa (Escolas de Ensino Técnico do Estado do Pará) Salvaterra, uma oportunidade de, além de poder adquirir novas habilidades em uma área de seu interesse, apresentar aos turistas a história e a realidade local, contada por uma moradora da própria comunidade.

Por ser uma área de quilombo e devido à COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), prevista para acontecer em novembro de 2025 em Belém, no Pará, Izabeli conta que a região tem sido visitada por muitos turistas. Porém, os guias que acompanham os grupos não têm conhecimento sobre a verdadeira história local, segundo ela. “Quando a Eetepa começou a ofertar esse curso, eu percebi que seria um jeito de expandir e mostrar a nossa origem, ao invés de dar oportunidades para outras pessoas que não conhecem de fato nossa trajetória e a nossa resistência. É uma chance que nós, lideranças de quilombos, temos de aproveitar para dar continuidade nesse turismo”, explica.

Quilombos são espaços formados por pessoas e famílias que vivem da pesca e agricultura de forma coletiva e, em sua maioria, descendentes de africanos escravizados. As primeiras comunidades foram estabelecidas no Brasil durante o período colonial, quando as pessoas escravizadas conseguiam fugir de seus senhores para viver em liberdade. Atualmente, cerca de 18 famílias vivem em Santa Luzia, o menor quilombo de Salvaterra. O sustento vem, em especial, da pesca e da produção do abacaxi e da mandioca, transformada em farinha, tucupi e tapioca.

Para Izabeli, o curso de turismo traz um importante viés sobre empreendedorismo e sustentabilidade, que tem agregado muito em sua vivência no local. “Levando o turismo para dentro de nossa comunidade, podemos proporcionar não só mais uma forma de renda para os moradores, mas também daremos uma maior visibilidade para nosso quilombo, com visitantes locais, que compartilham suas visitas nas redes sociais. Mas, sempre pensando em oferecer um turismo sustentável, pois vemos em muitos lugares que o meio ambiente está sendo destruído e aqui, como nosso sustento depende da terra, temos que preservá-la em primeiro lugar”, comenta.

Outro motivo que levou a pescadora a realizar o curso para trazer visitantes para o local é acabar com o preconceito que perdura até hoje. “Acredito que o turismo seja um meio para quebrar esse paradigma e a discriminação que nós, quilombolas, sofremos ainda. Apresentando a nossa forma de viver e a nossa cultura, outras pessoas vão poder dar importância para nossa origem”, esclarece.

Izabeli também destaca que, após finalizar o curso, pretende compartilhar o conhecimento e mostrar a importância da qualificação para os outros líderes dos quilombos na prática. “Conversei apenas com duas lideranças até agora, mas acredito que assim que eu me formar e conseguir transformar o turismo dentro da minha comunidade, vai ser uma forma mais perceptível e clara para eles verem as mudanças, participarem do curso e levarem para seus quilombos também”, diz.

Para ela, é por meio dos estudos que grandes vitórias são alcançadas. “Há alguns anos, terminei o ensino médio, fiz metade do ensino superior, mas desisti e fiquei em casa. Apareceram alguns cursos que tentei, mas não me encaixava em nenhum, o que acredito que aconteça com várias pessoas, até que surgiu o de turismo na Eetepa. Vi como uma nova oportunidade, já que eu estava parada, para buscar conhecimento porque acredito que o aprendizado nunca é pouco para quem quer vencer na vida. É importante a gente deixar nossa casa, nossa família, eu que já sou mãe, para correr atrás do que a gente quer. No futuro, os meus estudos de hoje serão de grande importância para nós e para todos do quilombo”, conclui.

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