Em artigo, superintendente do Itaú Educação e Trabalho analisa os desequilíbrios e os desafios para as juventudes brasileiras no acesso à EPT
São profundas e históricas as desigualdades econômicas, de raça e gênero que assolam as juventudes brasileiras, refletindo em exclusão, discriminação e baixo acesso a oportunidades de melhoria de vida. E este também é o cenário quando tratamos de educação e trabalho. Esta é a reflexão que Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho, propõe em sua coluna mensal no jornal Valor Econômico, publicada na segunda-feira (11/11), com o título “Desigualdades e educação profissional”.
Dentre as pessoas de 20 a 29 anos que concluíram até o Ensino Médio, por exemplo, há mais brancos do que negros - 56,3% contra 50% de 2012 a 2019, segundo dados do IBGE. Números do Ministério do Trabalho e Emprego mostraram que, no 1º trimestre de 2024, dos 3,2 milhões dos jovens desocupados, 51% eram mulheres e 65% eram negros. “É um retrato que aponta para a urgência de agir na busca da equidade de oportunidades para as juventudes”, afirma.
Segundo Inoue, a Educação Profissional e Tecnológica (EPT) é um caminho promissor para romper com essas desigualdades. O estudo “Democratização da EPT no Brasil: Análise sobre a oferta considerando raça, gênero, condição socioeconômica e local de residência”, recém-lançado pelo Itaú Educação e Trabalho, traça um diagnóstico da oferta de EPT no país e suas regiões, e mostra que há equilíbrio em termos de raça e gênero, mas ao olhar para o perfil socioeconômico das juventudes os desafios são imensos. “A EPT tem potencial para oferecer oportunidades de formação qualificada para o mundo do trabalho e, assim, mudar para melhor a vida dos jovens e do país. No entanto, é preciso que a demanda seja democratizada e alcance uma parcela da população que não tem acesso a quase nada”, analisa.
No texto, a superintendente destaca que o acesso à formação para o mundo do trabalho ainda é um desafio a ser enfrentado: a EPT atende 12% dos jovens do ensino médio, enquanto o ensino superior atende 25% dos jovens de 18 a 24 anos. A maior parte da população brasileira está fora das principais vias de formação profissional existentes.
O estudo mostra, por exemplo, que há equilíbrio relativo nas matrículas de EPT em termos de raça, sem grandes distorções entre jovens brancos e negros no país, mas regionalmente há desequilíbrios consideráveis. Do ponto de vista de gênero também há equilíbrio em praticamente todas as regiões brasileiras. Mas, quando há intersecção de raça e gênero, os gargalos são mais evidentes. Outro ponto preocupante: todas as regiões mostram desequilíbrios que desfavorecem estudantes de baixo nível socioeconômico. “A pesquisa evidencia distorções que precisam ser corrigidas. Acima disso é preciso que haja intencionalidade desde o desenho inicial delas para evitar que as desigualdades se perpetuem, instaladas nessas políticas públicas estaduais que nascem para organizar a EPT”, explica.
Para Inoue, há uma oportunidade para que a EPT possa efetivamente reverter o fluxo das desigualdades das juventudes, transformando-se em um vetor real de transformação que promova o desenvolvimento social e econômico do país. “O momento é especialmente propício para que os Estados orientem uma oferta de EPT que considere estes marcadores de desigualdades, uma vez que esta modalidade de ensino vem expandindo significativamente e obtendo um impulso de crescimento cada vez maior, gerado por políticas públicas robustas que, por sua vez, dão cada vez mais contorno para a EPT”.
A superintendente ainda reforça que combater as desigualdades é responsabilidade de todos. “É uma condição incontornável para efetivamente incidir sobre a violência, a insegurança, os desequilíbrios sociais, a pobreza, a injustiça, entre outros desafios. Isso passa pela educação e pelo mundo do trabalho. A superação das desigualdades de raça, gênero e condição socioeconômica não é apenas uma questão de justiça, mas uma necessidade para o desenvolvimento sustentável do Brasil. E a EPT é uma potente aliada nesta batalha”, conclui.
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